Educar para o pensar espírita é educar o ser para dimensões conscienciais superiores. Esta educação para o Espírito implica em atualizar as próprias potencialidades, desenvolvendo e ampliando o seu horizonte intelecto-moral em contínua ligação com os Espíritos Superiores que conduzem os destinos humanos.(STS)

Base Estrutural do ©PROJETO ESTUDOS FILOSÓFICOS ESPÍRITAS (EFE, 2001): Consulte o rodapé deste Blog.

quarta-feira, 4 de novembro de 2020

MEU REINO NÃO É DESTE MUNDO

Em O Evangelho Segundo o Espiritismo, capítulo 2, Meu Reino não é deste mundo, Allan Kardec extraiu do Evangelho de João, passagens que enfatizam o Reino de Jesus como um estado de alma alcançado após um processo de auto superação. Para situar esse episódio em seu momento histórico, Jesus já havia sido preso pelo Sinédrio, já estivera na presença de Pilatos levado pelos fariseus, e simultaneamente de Pilatos de volta ao Sinédrio. Nos dias atuais, há vários estudiosos no Brasil e no exterior que se ocupam em pesquisar e registrar, com o máximo de exatidão possível, os fatos ocorridos com Jesus, o seu julgamento ilegal por parte do Sinédrio dos fariseus de Jerusalém, bem como as ações atribuídas a Pôncio Pilatos. Jesus, conforme o evangelista, não se preocupava em deter-se em longas explicações, senão em ser objetivo e claro para a autoridade romana. Nem os romanos, nem os judeus do Sinédrio estavam preparados, sob o ponto de vista de sua evolução espiritual, a compreender o alcance dos ensinamentos do Mestre, por isso a sua discreta postura. Jesus sabia que seria compreendido apenas pela posteridade, quando os seres humanos tivessem alcançado maturidade emocional e intelectual, um patamar de compreensão suficiente para começar a entender a finalidade de sua presença na Terra, bem como a sua verdadeira identidade, despojada dos mitos e dos rituais que se seguiriam ao longo de toda a Idade Média, e que formariam as religiões ditas cristãs. Jesus não viera fundar religiões, Jesus era Mestre, e como tal, ensinava, para que as pessoas adquirissem autonomia e fé raciocinada. Tal como ensina a Filosofia Espírita. Allan Kardec, estudando com afinco os Evangelhos, destaca um trecho dos mais interessantes, já que a Jesus foram atribuídas credenciais de nobreza humana, como Rei dos Reis, Príncipe, etc. Kardec enfatiza a necessidade de compreendermos que a nobreza de Jesus era outra, era de cunho espiritual, pois jamais houve sobre a Terra alguém que tivesse a sua envergadura intelecto-moral. E Jesus, Ele próprio, diz à máxima autoridade romana em Jerusalém de seu tempo, que “o seu reino não era deste mundo”. E que mundo era esse? Sem dúvida, que não se referia a localizações geográficas, nem a este ou outro planeta, mas a patamares evolutivos. Jamais poderíamos compreender seus ensinamentos sem o progresso intelecto-moral realizado ou em vias de se realizar, parcial, gradativo. Allan Kardec comenta em OESE sobre essa passagem justamente aplicando-a à Vida Futura, como “a meta a que a Humanidade irá ter e como devendo constituir objeto das maiores preocupações do ser humano na Terra. Sem a vida futura, nenhuma razão de ser teria a maior parte dos seus preceitos morais, donde vem que os que não crêem na vida futura, imaginando que Ele apenas falava na vida presente, não os compreendem, ou o consideram pueris.” A Filosofia Espírita “vem completar, nesse ponto, como em vários outros, o ensino de Jesus, tornando-o mais claro quando os homens já se mostrariam maduros bastante para apreender a verdade. “Com a Filosofia Espírita, a vida futura deixa de ser simples artigo de fé, mera hipótese; torna-se uma realidade material, que os fatos demonstram.” É mais um aspecto consolador do Espiritismo, o saber-se imortal, ter a certeza de que a vida continua saindo desta dimensão sólida, material, para outras, mais sutis, onde o Espírito se revigora e evolui, para depois retornar, refeito, para novas experiências. A morte já não tem aquele aspecto lúgubre que as religiões lhe atribuíram, dando-lhe sentenças de felicidade eterna, inócua e vazia, ou sofrimento igualmente eterno, sem misericórdia. O ser humano, em sua imortalidade natural, porque criatura de Deus, está fatalmente destinado, sim, à felicidade plena, não nos padrões da Terra de provas e expiações, mas de planos superiores da existência. Por isso, no próximo item deste capítulo, denominado O Ponto de Vista, Allan Kardec destaca que a certeza de uma vida futura, seja em planos extra dimensionais ou na Terra do futuro, ou ainda em outros planetas compatíveis à evolução do indivíduo, “proporciona fé inabalável no porvir, fé que acarreta enormes consequências sobre a moralização dos seres humanos, porque muda completamente o ponto de vista sob o qual encaram eles a vida terrena. Para quem se coloca, pelo pensamento, na vida espiritual, que é indefinida, a vida corpórea se torna simples passagem, (...) as vicissitudes e tribulações desta vida não passam de incidentes que eles suportam com paciência, por sabe-las de curta duração, devendo seguir-se um estado mais ditoso.” A morte “nada terá de aterrador, deixa de ser a porta que se abre para” o desconhecido, e transforma-se porta que dá libertação. “Sabendo temporária e não definitiva a sua estada no lugar onde se encontra, menos atenção presta às preocupações da vida, resultando-lhe daí uma calma de espírito que tira da vida muito de seu amargor.” E acrescenta Kardec: “pelo simples fato de duvidar da vida futura, o ser humano dirige todas as suas atenções para a vida terrena.” O foco de sua existência está nas coisas e nas pessoas que a cercam. À falta de alguma delas lhe causa imenso pesar. A vida com foco apenas no presente, sem perspectivas de futuro, repleta o ser humano de vazio interior, que ele busca em desespero, preencher. Daí as alternativas nas drogas, na vida desregrada, sem afetos legítimos, porque a existência se torna fugaz e líquida. O que Allan Kardec quer dizer, é que o ser humano, nós, não podemos viver sem o conhecimento consolador da Filosofia Espírita, que abre novos horizontes. Sabemos quem somos, podemos supor de onde viemos pelas qualidades adquiridas e questões ainda a resolver, sabemos que nosso futuro dependerá do que traçarmos com nosso livre-arbítrio no presente. E para tanto, temos todo o apoio e amparo de nossos benfeitores espirituais, que nos acompanham há diversas reencarnações, nos inspirando resoluções que nos coloquem no caminho correto. O mesmo capítulo traz o testemunho de um Espírito que foi uma rainha na França. Desconhecemos a sua identidade, porém, suas palavras endossam os ensinamentos de Jesus. Ela afirma que se perdeu pelo orgulho desmesurado, e ao aportar no mundo espiritual descobriu-se vazia de valores e virtudes espirituais, de ações que pudessem testemunhar-lhe a grandeza moral, e não a nobreza terrena. Ela lamenta o tempo perdido, mas como Deus é misericordioso, certamente pode ter tido outras reencarnações para recomeçar e ganhar méritos que desprezou quando rainha. Ela nos aconselha que não desprezemos a prece, pois esta fará com que nos mantenhamos conectados com Deus e com os Bons Espíritos. Sobre a prece, o OESE traz todo um capítulo de modelos de preces para momentos específicos, como Nas Aflições da Vida, Para um enfermo, Para agradecer uma graça alcançada, Para os Bons Espíritos - nossos Anjos Guardiões, Por uma criança que acaba de nascer, Por uma pessoa que acaba de desencarnar, etc. As recomendações contidas em O Evangelho Segundo o Espiritismo valem para todos os momentos de nossas vidas. Para leitura diária, para as preces matutinas antes de sairmos para os afazeres profissionais, para as preces noturnas, para a feitura do Evangelho no Lar. São reflexões profundas que trazem Jesus e os Bons Espíritos para perto de nós. Devemos recorrer a essa magnífica obra, certamente inspirada por Jesus a Kardec, sempre ! Sonia Theodoro da Silva, filósofa.

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